No dia em que percebeu que ela se tinha ido embora, Erik Gould abriu a porta da rua, lentamente, e saiu para o jardim. Ficou parado em frente aos canteiros de flores. Tirou o cinto, despiu as calças de fazenda, depois a camisola de lã com imagens de gazelas a saltar, depois a camisola interior de alças, depois as meias pretas. Ficou nu no meio das flores. Debruçou-se e rasgou as mãos no canteiro das rosas. Abraçou-as, acariciou-as, até sangrar das mãos, dos braços, do peito, dos lábios, do sexo, da cara, até não poder mais com a dor espetada na carne. O perfume das flores misturava-se com o sangue e preenchia o ar de céu e terra, de sonho e pesadelo, de nuvens e raízes, de circunferências e rectas.