O espectáculo “Vidas de A a Z”, uma adaptação da peça Vidas de A a Z: Viver 100 vidas em vidas que não vivem da autoria de Mónica Gomes e Sílvia Raposo, é a primeira peça de teatro resultante de um projecto, nascido em meio académico, idealizado, levado a cabo e concretizado por uma estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo em vista a iniciação na área das artes do espectáculo em Portugal. Conta a história de quatro indivíduos problemáticos que partilham a mesma casa. Senhor Pimenta, um idoso com Alzheimer, tem um quarto arrendado em sua casa há mais de cinco anos a Dulce, uma senhora que sofre de agorafobia e neuroses várias. Certo dia chega Júlio, um actor inventado por Pimenta que quer ser reconhecido pelo seu talento, para partilhar quarto com Dulce. Esta, desconhecendo a situação, depara-se com metade do quarto supostamente arrendada a Júlio pelo afilhado do Senhor Pimenta (o afilhado Acácio), acabando por acreditar que Júlio existe na realidade. Numa casa de malucos razoáveis, só mesmo Nini, a empregada transgénero, para pôr ordem na "família" e no espectáculo e aceitar entrar na ilusão. Entre ódios assumidos, paixões ateadas, discursos alienados, fracassos de bilheteira, sexualidades problemáticas, máscaras assumidas, há uma grande lição: a vida é sofredora! Mas temos que a viver e, de preferência, com bom humor e uma boa dose de loucura! São políticas, sociais, existenciais e humanas as questões que se levantam nos quatro monólogos presentes na peça e nos diálogos mais improváveis. Porque tudo é teatro no teatro, num jogo constante com a quarta parede. O espectador é e deixa de o ser, nuns momentos é nada, noutros é tudo, ora está na plateia, ora é levado para um outro espaço imaginário, no qual apenas a verdade persiste. Porque afinal "todos aparecem a marcar presença, todos disfarçados de alguém que querem ser e não são, todos disfarçados do que dizem sermos e não somos, todos disfarçados do que aceitamos ser."